O que é o Mindfulness?

"Start living right here, in each present moment."

Mark Williams


O termo Mindfulness deriva da Psicologia Budista e significa "consciência" ou "atenção plena".  Determina uma capacidade intrínseca que todos possuímos, e que pode ser desenvolvida, de focar a nossa atenção, de forma consciente, intencional e sem julgamento, no momento presente. 

Esta qualidade pode e deve ser alimentada diariamente com a prática formal - desdobra-se em várias formas de meditação que requerem um período de tempo exclusivo - e informal - assenta na integração e desenvolvimento desta capacidade no nosso quotidiano e nas tarefas rotineiras que nele desempenhamos - e, em última instância, na forma como encaramos a nossa experiência da própria vida.

Assim, não se trata apenas de aprender a meditar, trata-se de reaprender a viver, e viver melhor, apreciando tudo o que a cada instante nos é oferecido. Inconscientemente, passamos a maior parte do nosso tempo alheados em pensamentos que nos remetem para o passado, revivendo determinadas situações, ou para o futuro, antecipando-as. Nesta correria de pensamentos em que nos apressamos todos os dias, esquecemos, muitas vezes, de parar e tomar consciência de que é no aqui e no agora que o mais importante acontece, quer dentro de nós, quer no mundo que nos envolve. É nesta reaprendizagem da relação que estabelecemos com as nossas vivências, internas e externas, que consiste a prática regular de Mindfulness.     

Enquadrado no âmbito das Terapias Cognitivo-Comportamentais de 3ª Geração, o Mindfulness tem vindo, nos últimos anos, a ganhar forma e peso na área da saúde mental. A eficácia das abordagens terapêuticas baseadas em Mindfulness é, neste momento, amplamente comprovada pela investigação, no tratamento de problemáticas de ansiedade, stresse pós-traumático, depressão, dor crónica e distúrbios alimentares. 


História


Foi em 1982 que Jon Kabat-Zinn desenvolveu o programa conhecido por MBSR - Mindfulness-Based Stress Reduction Program - com o intuito de o aplicar em hospitais, especificamente com doentes em condições de dor crónica, incapacitante ou terminal. O modelo foi trabalhado e melhorado, e em 1990 surge na versão utilizada actualmente. É, pois, um programa com ênfase na meditação formal consistente e na consciência corporal (utilização de exercícios baseados no movimento e prática de Yoga), para uma redução do stresse. Embora o autor sempre tenha referido que este programa não é um método terapêutico, uma vez que acredita que cabe ao indivíduo tomar responsabilidade pela sua própria saúde, o seu impacto nas intervenções terapêuticas foi profundo.

Em 1995, Teasdale, Segal e Williams apresentam um novo método terapêutico baseado em Mindfulness: o MBCT - Mindfulness Based Cognitive Therapy. Neste, o enfoque é dado à relação do indivíduo com os seus pensamentos e estados de humor, relativizando-se a componente do movimento corporal que era tida como essencial no MBSR, mas dando como imprescindível a prática formal (meditação) e informal. Originalmente construído como método profiláctico destinado a indivíduos com historial de depressão reincidente, demonstrou igualmente a sua eficácia no tratamento desta problemática e na prevenção da ruminação depressiva crónica.

Hayes e os seus colaboradores criam o modelo terapêutico ACT - Acceptance and Commitment Therapy - em 1999. Aqui, são utilizados princípios básicos do Mindfulness e treinadas capacidades a ele inerentes, mas a meditação formal não é vista como essencial ou obrigatória para a obtenção de resultados, embora possa ser usada. A sua aplicação estende-se às mais variadas problemáticas.

Também em 1999 é apresentado por Kristeller & Hallett o modelo de treino MB-EAT - Mindfulness-Based Eating Awareness Training, dirigido a indivíduos com distúrbios alimentares. Este tipo de programa foca-se no aumento da consciência dos estados corporais e internos, na reaprendizagem da sensibilidade às sensações de saciedade e na meditação formal destinada a promover os sentimentos de perdão e auto-aceitação.

Mais tarde, em 2006, surge o modelo terapêutico centrado na compaixão, de Gilbert e colaboradores, CFT - Compassion Focused Therapy. Este é um modelo integrativo, baseado nas correntes da Psicologia Social, do Desenvolvimento, Evolucionista e Budista, bem como nas Neurociências. O treino da compaixão assume, aqui, o papel principal, sendo que a meditação Mindfulness é utilizada de forma a desenvolver este sentimento quer em relação a si próprio, quer em relação aos outros. 

Actualmente, o Mindfulness é utilizado à escala mundial nos mais variados contextos e divide-se em múltiplos formatos, deixando de estar apenas confinado ao meio terapêutico e tornando-se acessível em escolas, instituições e até mesmo no meio empresarial, onde gigantes como a Google o implementaram com sucesso na rotina dos seus colaboradores.


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